segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Maysa é a nossa versão de Amy Winehouse


Dirigida por Jayme Monjardim, filho da cantora, Maysa — Quando Fala o Coração mostrou em seus primeiros capítulos um eficiente elenco, esmero na produção dos cenários e figurinos, além da bela fotografia de Affonso Beato, num padrão raro na TV brasileira.

A série revelou também a talentosa atriz gaúcha Larissa Maciel, que personifica a cantora de maneira bem convincente. Ainda que falte um pouco de intensidade em sua interpretação, justamente nas cenas em que dubla Maysa cantando, seus grandes e expressivos olhos verdes são capazes de hipnotizar o espectador.

Talvez a opção de Manoel Carlos, autor da série, por uma narrativa não-cronológica possa incomodar os espectadores acostumados ao formato mais convencional de grande parte das novelas e minisséries da emissora. Mas esse recurso permite equilibrar, por meio de flashbacks, as passagens mais pesadas e melodramáticas da história com outras mais descontraídas, incluindo os esperados números musicais.

Especialmente saborosa é a cena em que Maysa interpreta o samba-canção Ouça (de sua autoria), um de seus maiores sucessos. Com o rosto em primeiro plano, enquadrado pela tela de um aparelho de TV, a cantora mandou um irônico recado para o ex-marido, o milionário André Matarazzo. E que outra cantora teria, como a impulsiva Maysa, a coragem de tirar o sapato e atirá-lo sobre espectadores desrespeitosos, que insistiam em falar alto durante uma de suas apresentações?

Cafajeste

Já as aparições do jornalista e compositor Ronaldo Bôscoli (bem interpretado pelo ator Mateus Solano) garantiram os momentos mais leves e divertidos. "Pela bossa nova, eu namoraria até o Trio Iraquitã", dispara o autor da clássica Lobo Bobo, no melhor estilo cafajeste, antes de lançar seu charme sobre a cantora.

Ironicamente, outra cena exibida na última quarta nos remeteu a um fenômeno cultural bem característico dos dias de hoje: a indústria que se alimenta da vida pessoal dos artistas e celebridades. Flagrada por um paparazzo ao se despir para um banho de cachoeira com um grupo de amigos, Maysa viu sua intimidade exposta na capa de um tablóide bem semelhante aos atuais.

Quem sabe, se conhecesse o trágico final de Maysa, a cantora inglesa Amy Winehouse — que parece ser tão intensa e autodestrutiva quanto a diva brasileira da fossa — tivesse um insight sobre o que a próxima noite de excessos pode lhe reservar.



Por Carlos Calado.

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